Investigadores falaram sobre a descoberta da Ilha da Madeira
O Doutor João Abel da Fonseca e o Comandante José Manuel Pereira foram os oradores convidados da conferência sobre os “600 anos da Descoberta da Ilha da Madeira” ontem realizada, no âmbito da 10.ª edição do Festival dos Descobrimentos em Lagos. Seguiu-se a inauguração da exposição subordinada à mesma temática, que está patente nos Antigos Paços do Concelho, podendo ser apreciada até ao próximo dia 31 de maio.
João Abel da Fonseca* centrou a sua comunicação em Gaspar Frutuoso, um sacerdote humanista que viveu no séc. XVI em Ponta Delgada e foi um percursor do estudo da região, escrevendo as famosas “Saudades da Terra”, obra composta por seis livros, sendo o livro II dedicado ao Descobrimento da Ilha da Madeira. O manuscrito, contendo um repositório de preciosas informações sobre a geografia, a botânica, a toponímia, a história e demais aspetos que caracterizam aquele território, esteve perdido durante algum tempo, pois após a morte do seu autor ficou na posse dos jesuítas em Ponta Delgada e, quando estes foram expulsos de Portugal pelo Marquês de Pombal, parte dessa biblioteca foi adquirida por particulares. O documento só havia de ser editado pela primeira vez em 1873. Na sua intervenção, João Abel da Fonseca destacou vários outros autores que nos séculos XV e XVI escreveram sobre a Madeira, trabalhos esses que tendo tido muitas traduções fizeram com que a história do «achamento» (primeiro contacto; precedia o descobrimento) e do «descobrimento» (posterior ao achamento, consistia em registar pormenorizadamente como é que se vai e se vem de determinado lugar anteriormente achado) da Ilha da Madeira fosse mais conhecida noutros países europeus do que propriamente em Portugal.
José Manuel Pereira**, por sua vez, apresentou a comunicação “A Re-descoberta da Madeira e as navegações anteriores e futuras”, afirmando que para se compreender a história dos Descobrimentos é importante conhecer os mares, as marés e os ventos, assim como os meios técnicos então existentes. Relembrou que as primeiras viagens foram feitas com cartas náuticas muito rudimentares, a maior parte das quais em branco, preparadas para registar informação à medida que a exploração dos mares se fazia. Para este estudioso, com forte conhecimento do mar e das técnicas de navegação, “a descoberta do Atlântico proporcionou a descoberta do Mundo”. No final da sua apresentação deixou uma mensagem, preconizando “que se estude e que se viaje”.
No seguimento da conferência, foi inaugurada a exposição documental “Lagos e os 600 Anos da Descoberta da Ilha da Madeira” que, percorrendo a geografia e a titularidade da Ilha da Madeira expressa nalguns elementos iconográficos conhecidos dos investigadores, inclui também documentos fac-similados e transcritos, com destaque para um dos Capítulos Gerais apresentado nas Cortes de Santarém de 1451, onde surge pela primeira vez a menção da Ilha da Madeira como titularidade toponímica nas Cortes Quatrocentistas, bem como o primeiro Contrato de Açúcar celebrado entre o Infante D. Henrique e Diogo de Teive em Albufeira (1452), que estabelece a implantação do primeiro engenho de açúcar na ilha.
Maria Joaquina Matos enquadrou a iniciativa no X Festival dos Descobrimentos e destacou o papel essencial da comunidade escolar na construção deste grande evento de animação e recriação histórica, recordando que o mesmo teve a sua origem num projeto educativo. Presente na inauguração da exposição, a Presidente da Câmara referiu também o papel importantíssimo de Lagos na história do país, em particular nos séculos XV e XVI, o qual importa conhecer e promover através de várias iniciativas, estando para esse efeito prevista a instalação ainda este ano, no Edifício dos Antigos Paços do Concelho, do Fórum dos Descobrimentos, uma estrutura que, retomando o trabalho anteriormente realizado pela já extinta Comissão Municipal dos Descobrimentos, irá dinamizar um conjunto de atividades que incluirão debates, exposições, ciclos de conferências, publicação e apresentação de edições, assim como disponibilização de documentação sobre a temática.
*João Abel da Fonseca é licenciado em História pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e Pós-graduado em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa pela mesma; Associado fundador do Instituto de Cultura Europeia e Atlântica (ICEA), sendo Presidente do Conselho Superior e Vogal do Conselho Consultivo, desde a sua fundação em 2003; Membro emérito da Academia de Marinha, onde é Vogal da Comissão Científica da História da Marinha Portuguesa, e ocupou durante 13 anos o cargo de Vice-Secretário-Geral e Secretário da Classe de História Marítima; Académico correspondente da Academia Portuguesa da História; Sócio correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, Classe de Letras, 7ª Secção; Sócio efetivo da Sociedade de Geografia de Lisboa, onde é Vice-Presidente da Secção de História, Secretário da Secção de Estudos Luso-Árabes e Vogal fundador da Comissão Europeia; Sócio efetivo da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, onde leciona na Academia Lusófona ‘Luís de Camões’, é Vogal do Instituto Ibn Muqana e Presidente da Direcção do Instituto D. Álvaro de Bragança; Sócio efetivo do Instituto de Cultura Ibero-Atlântica (ICIA); Sócio honorário do Instituto Prometheus –Associação para Estudos Históricos e Interdisciplinares (IPAEHI); Sócio efetivo do Instituto D. João de Castro; Membro do projeto DIAITA – Património Alimentar da Lusofonia, do CECH da Universidade de Coimbra; Membro correspondente do Instituto Balear de la Historia; Membro correspondente da Academia Uruguaya de Historia Marítima y Fluvial; Investigador do Centro de Investigação Professor Doutor Joaquim Veríssimo Serrão, desde a sua fundação; Participou em numerosos congressos, simpósios, colóquios, cursos e encontros similares na área da História e realizou conferências ou apresentou comunicações em países dos quatro continentes. Tem cerca de 120 trabalhos publicados em Actas, Memórias, Anais, Revistas ou Boletins e é autor de várias entradas no volume II do Dicionário da Expansão Portuguesa, recentemente publicado pelo Círculo de Leitores. Foi agraciado, em Janeiro de 2016, pelo Almirante Chefe do Estado-Maior da Armada, com a Medalha Naval de ‘Vasco da Gama’, “pelo elevado mérito, muito contribuindo para o prestigiado cumprimento da missão da Academia de Marinha e, consequentemente, da Marinha Portuguesa”.
**José Manuel Pereira é um oficial superior da Marinha Portuguesa, licenciado em Ciências Sócio Militares pela Escola Naval, mestre em História dos Descobrimentos e da Expansão Portuguesa pela Universidade Nova de Lisboa e Doutorado em História e Filosofia das Ciências pela Faculdade de Ciências de Lisboa, com numerosos trabalhos editados sobre estes assuntos, com especial destaque para o mar. Estando com a graduação de capitão-de-mar-e-guerra, em 10 de Junho de 2013, foi agraciado com a comenda da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada. Entre outras funções na Armada Portuguesa, prestou serviço na Guiné em duas comissões de combate, uma como fuzileiro e outra como comandante de um navio. Foi durante largo período instrutor e professor de Navegação da Escola Naval, tendo ainda comandado a corveta Honório Barreto, o NE Vega e o Navio Escola Sagres (1989 - 1992). Desempenhou ainda funções no Comando NATO CINCIBERLANT, em Oeiras. Depois de passar à reserva iniciou uma carreira académica e integrou a Academia de Marinha, tendo numerosos trabalhos publicados e sendo frequentemente convidado para proferir palestras e participar em conferências.
É membro do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia (CIUHCT), pólo da Universidade Nova de Lisboa (UNL), assim como da Academia de Marinha e Vice-Secretário da Secção de Artes Letras e Ciências; membro do Conselho Supremo de Sociedade Histórica da Independência de Portugal (S.H.I.P .); sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa e do Instituto de Cultura Europeia e Atlântica (I.C.E.A.), e, ainda membro do Centro Português de Estudos Asiáticos, do Centro de História das Ciências da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, e do Institute for Social Sciences and Humanities, de Tellichery, na Índia.