Lagos promoveu nova campanha arqueológica no Monte Molião
O Monte Molião é uma pequena colina ovalada, localizada na margem esquerda da foz da ribeira de Bensafrim (Rio de Lagos). A investigação que, desde 2007, a UNIARQ tem vindo a efetuar sobre o sítio, permitiu recolher importantes dados e aproxima-nos deste habitat ocupado desde o século IV a.C. até ao século II d.C e cujos vestígios confirmam a integração do Monte Molião nas grandes rotas comerciais da antiguidade.
A 10ª campanha de escavações arqueológicas no Monte Molião decorreu entre os dias 16 de julho e 28 de agosto, tendo sido integralmente financiada pela Câmara Municipal de Lagos ao abrigo de um protocolo que une esta autarquia algarvia à Faculdade de Letras de Lisboa. Os investigadores da Uniarq Ana Margarida Arruda, Carlos Pereira e Elisa de Sousa dirigiram os trabalhos no terreno, que contaram com a colaboração voluntária de estudantes da licenciatura e do mestrado em Arqueologia da Faculdade de Letras de Lisboa, bem como de alunos da Universidade de Frankfurt, de bolseiros pós-doutorais, e de um técnico de conservação e restauro, uma equipa que somou um total de 40 pessoas. Por parte da autarquia lacobrigense, esta investigação tem sido acompanhada, em permanência, pela arqueóloga municipal, Elena Morán.
Os resultados obtidos revelam-se da maior importância para a compreensão da presença romana no litoral Sul do atual território português e o estudo detalhado dos milhares de peças que esta Campanha proporcionou, devidamente associados aos respetivos contextos, que se iniciará neste mês de setembro, permitirá novas leituras sobre a romanização da área de Lagos, em particular, e do Algarve, em geral.
Os trabalhos incidiram no designado Sector A, junto à rua do Molião, tendo-se escavado alguns dos 15 compartimentos integrantes do edifício que se desenvolve para Sul, e que, no alargamento efectuado na campanha de 2017, tinham sido identificados e definidos em planta. O excelente estado de conservação dos espaços domésticos de época romana imperial e dos materiais que estavam incorporados nos sedimentos que os preenchiam, muitos dos quais completos, obrigou à presença, praticamente em permanência, de uma técnica de conservação e restauro, que procedeu ao tratamento dos materiais in situ e à sua remoção, mas também a trabalhos de consolidação de muros. A grande maioria dos estratos escavados no interior dos compartimentos, que em certos casos atingiram mais de 1,50 metros de potência, datam de época romana, especificamente das dinastias júlio-cláudia e flávia, facto comprovado pela tipologia e características dos materiais que foram recuperados, cerâmicos, vítreos, metálicos e ósseos. Outro tipo de restos foi também recolhido, concretamente abundante fauna marinha, que preenchia o interior de algumas ânforas.
Não deixa de impressionar o notável estado de conservação do sítio arqueológico de Monte Molião, não só pela quantidade de materiais conservados in situ, que permaneceram até aos dias de hoje tal como foram abandonados em época romana, mas também pela altura conservada das paredes dos diversos compartimentos, o que permitirá pôr em marcha, já na próxima campanha, trabalhos de "Arqueologia da Arquitectura" que estão programados no quadro do Projecto "Técnicas edilicias en el Círculo del Estrecho", financiado pela Subdirección General de Proyectos de Investigación I+D+i de Espanha (Proyectos de Excelencia) dirigido pela Professora Lourdes Roldan da Universidade Autónoma.